Pesquisadores avaliam efeitos e mecanismo de terapias alternativas em animais de laboratório
por Bruna Bernacchio
Ricardo Monezi testou o Reiki em ratos com câncer (Ilustração: Matheus Lopes)
Pesquisas
recentes comprovam efeitos benéficos e até encontram explicações
científicas para acupuntura e reiki. Estudos sobre o assunto, antes
restritos às universidades orientais, ganharam espaço entre
pesquisadores americanos, europeus e até brasileiros. Recentemente, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) criou uma denominação especial para
esses métodos: são as terapias integrativas.
Um artigo exmecanismo da acupuntura contra a dor foi publicado por pesquisadores da Universidade de Rochester na revista Nature Neuroscience em
30 de maio. Criada há quatro mil anos, a prática consiste na aplicação
de agulhas em pontos do corpo. Pela explicação tradicional, ela ativa
determinadas correntes energéticas para equilibrar a energia do
organismo.
Reprodução/ Shutterstock
Cientificamente,
as agulhas teriam efeitos no sistema nervoso central (cérebro e espinha
dorsal). As células cerebrais são ativadas e liberam endorfina, um
neurotransmissor responsável pela sensação de relaxamento e bem-estar. O
estudo dos nova-iorquinos descobriu uma novidade: a terapia, que atinge
tecidos mais profundos da pele, teria efeitos no sistema nervoso
periférico. As agulhas estimulam também a liberação de outro
neurotransmissor, a adenosina, com poder antiinflamatório e analgésico.
No experimento com camundongos com dores nas patas, cientistas
aplicavam as agulhas no joelho do animal. Eles constataram que o nível
de adenosina na pele da região era 24 vezes maior do que o normal e que
houve uma redução do desconforto em dois terços.
A equipe tentou potencializar a eficácia da terapia, colocou um
medicamento usado para tratar câncer nas agulhas. A droga aprimorou o
tratamento: o nível de adenosina e a duração dos efeitos no organismo
dos aniamis praticamente tripliquase triplicou e o tempo de duração dos
efeitos no organismo dos ratos também triplicou. Mas este método não
poderia ser feito em humanos porque o medicamento ainda não é usado
clinicamente. “O próximo passo é testar a droga em pessoas, para
aperfeiçoá-la ou para encontrar outras drogas com o mesmo efeito”, diz
Maiken Nedergaard, coordenadora do estudo.
Reiki
Seus praticantes acreditam nos
efeitos benéficos da energia das mãos do terapeuta colocadas sobre o
corpo do paciente contra doenças. Para entender as alterações biológicas
do reiki, o psicobiólogo Ricardo Monezi testou o tratamento em
camundongos com câncer. “O animal não tem elaboração psicológica, fé,
crenças e a empatia pelo tratador. A partir da experimentação com eles,
procuramos isolar o efeito placebo”, diz. Para a sua pesquisa na USP,
Monezi escolheu o reiki entre todas as práticas de imposição de mãos por
tratar-se da única sem conotação religiosa.
No
experimento, a equipe de pesquisadores dividiu 60 camundongos com
tumores em três grupos. O grupo controle não recebeu nenhum tipo de
tratamento; o grupo “controle-luva” recebeu imposição com um par de
luvas preso a cabos de madeira; e o grupo “impostação” teve o tratamento
tradicional sempre pelas mãos da mesma pessoa.
Imposição de mãos nos grupos "Controle-Luva" e "Impostação", respectivamente (imagens retiradas do mestrado de Monezi)
Depois
de sacrificados, os animais foram avaliados quanto a sua resposta
imunológica, ou seja, a capacidade do organismo de destruir tumores. Os
resultados mostraram que, nos animais do grupo “impostação”, os glóbulos
brancos e células imunológicas tinham dobrado sua capacidade de
reconhecer e destruir as células cancerígenas.
“Não
sabemos ainda distinguir se a energia que o reiki trabalha é magnética,
elétrica ou eletromagnética. Os artigos descrevem- na como ‘energia
sutil’, de natureza não esclarecida pela física atual”, diz Monezi.
Segundo ele, essa energia produz ondas físicas, que liberam alguns
hormônios capazes de ativar as células de defesa do corpo. A
conclusão do estudo foi que, como não houve diferenças significativas
nos os grupos que não receberam o reiki, as alterações fisiológicas do
grupo que passou pelo tratamento não são decorrentes de efeito placebo.
A equipe de Monezi começou agora a analisar os efeitos do reiki
em seres humanos. O estudo ainda não está completo, mas o psicobiólogo
adianta que o primeiro grupo de 16 pessoas, apresenta resultados
positivos. “Os resultados sugerem uma melhoria, por exemplo, na
qualidade de vida e diminuição de sintomas de ansiedade e depressão”. O
trabalho faz parte de sua tese de doutorado pela Universidade Federal do
Estado de São Paulo (Unifesp).
E esses não são
os únicos trabalhos desenvolvidos com as terapias complementares no
Brasil. A psicobióloga Elisa Harumi, avalia o efeito do reiki em
pacientes que passaram por quimioterapia; a doutora em acupuntura Flávia
Freire constatou melhora de até 60% em pacientes com apnéia do sono
tratados com as agulhas, ambas pela Unifesp. A quantidade pesquisas
recentes sobre o assunto mostra que a ciência está cada vez mais
interessada no mecanismo e efeitos das terapias alternativas.
Material publicado na Revista Galileu
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